Choque argentino remete a políticas do passado na região, afirmam especialistas
Medidas do governo Milei assemelham-se às adotadas pelo Brasil nos anos 90, gerando análises sobre paralelos históricos.
O novo governo argentino, liderado pelo presidente Javier Milei, iniciou a implementação de medidas econômicas que estão gerando comparações com estratégias adotadas por outros países latino-americanos décadas atrás. O chamado “choque argentino” proposto pelo presidente assemelha-se a políticas passadas, como o “fujichoque” no Peru e a situação econômica do Brasil nos anos 90. Especialistas destacam a complexidade e os possíveis impactos dessas decisões, ressaltando a importância de observar a eficácia das ações do novo governo.
Paralelos Históricos
O presidente Milei, em seu discurso de posse, anunciou uma série de medidas concentradas nas áreas econômica e social. Dentre as propostas, destacam-se a dolarização da economia, o enxugamento da máquina pública, cortes no investimento estatal, privatizações e alinhamento aos Estados Unidos na política externa. Especialistas apontam semelhanças com o “fujichoque” implementado pelo presidente peruano Alberto Fujimori e a situação econômica brasileira durante o governo de Fernando Collor nos anos 90.
Semelhança com o Brasil de 1989
O cientista político Rafael Favetti observa que, apesar da comparação com o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, as estratégias de Milei assemelham-se mais ao Brasil de 1989, quando Collor foi eleito. Ambos os líderes centraram suas campanhas na modernização da burocracia estatal, enfrentando desafios como inflação galopante e alta dívida externa. O discurso de posse de ambos evidenciou a prioridade na estabilização monetária, com menções frequentes a inflação e dívida.
Medidas e Propostas do Choque Argentino
As medidas propostas pelo presidente argentino abrangem áreas cruciais, desde a dolarização da economia até o fim do Banco Central, passando pelo enxugamento da máquina pública e privatizações. O advogado tributário Pedro Simão destaca a intenção de modernizar e profissionalizar instituições, uma tendência observada em outros países que passaram por políticas similares.
Desafios e Impactos Sociais
Especialistas alertam para o amplo impacto que essas medidas podem ter em diversos setores e camadas da sociedade argentina, especialmente na classe média e nos mais humildes. O ministro da Economia, Luis Caputo, enfrenta o desafio de corrigir os preços relativos da economia e as tarifas de serviços públicos, o que pode resultar em uma aceleração temporária da inflação. A expectativa é de que o sofrimento inicial leve a resultados positivos, incluindo crescimento econômico e controle da inflação.
Reservas Internacionais e Desconfiança
A incerteza paira sobre o resultado final dessas medidas, com a atenção voltada para as ações concretas do ministro da Economia. A questão cambial é destacada como crucial para a Argentina, considerando a falta de dólares. A ausência de medidas para acumular reservas internacionais gera desconfiança, especialmente diante da intenção de dissolver o Banco Central, que contraria a necessidade de uma moeda própria e reservas suficientes.
O sucesso ou fracasso do “choque argentino” dependerá da capacidade do governo em implementar medidas eficazes. Especialistas sugerem que a trajetória do Brasil nos anos 2000, ao acumular reservas internacionais, pode servir como exemplo positivo. No entanto, a população argentina expressa preocupações sobre o tamanho do ajuste e a possibilidade de enfrentar uma crise econômica sem precedentes. O descontentamento social pode representar um desafio adicional para o presidente Milei, que busca conduzir a Argentina por um caminho de transformação econômica.