Por que ações de utilities são melhores no longo prazo do que parecem
Entenda o que são as ações de utilities e o que esperar delas ao longo prazo

Se você já conversou sobre investimentos, provavelmente ouviu o entusiasmo ao redor de “ações de tecnologia”, “varejistas disruptivas” ou “a nova startup que vai mudar o mundo”. No meio dessa euforia, quando alguém menciona ações de utilities — empresas de energia, saneamento ou gás — a reação costuma ser um suspiro.
Para muitos, o setor elétrico na bolsa e seus pares são sinônimos de “tédio”. São vistas como ações “paradas”, “sem crescimento” ou “investimentos de avô”.
Essa percepção é compreensível. Vivemos na era da volatilidade, onde o foco da mídia se concentra em empresas que dobram (ou perdem metade) de seu valor em semanas. Mas aqui está o segredo que investidores de longo prazo bem-sucedidos já descobriram: no mercado financeiro, “chato” é muitas vezes sinônimo de “lucrativo” e “seguro”.
Enquanto outros papéis sobem e desabam como montanha-russa, as empresas de energia e saneamento seguem firmes, entregando resultados consistentes, dividendos previsíveis e uma resiliência que protege o patrimônio nos momentos mais difíceis.
Neste artigo, vamos desmistificar essa visão e mostrar por que, no longo prazo, as ações de utilities são muito melhores do que parecem.
O que são ações de utilities e por que são essenciais

Antes de tudo, precisamos definir o que exatamente estamos falando. O termo “utilities” (pronuncia-se iu-tí-li-tiz) vem do inglês e se refere a empresas de serviços públicos essenciais.
Pense nos serviços sem os quais a sociedade moderna simplesmente para:
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Energia Elétrica: Geração, transmissão e distribuição de luz.
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Saneamento: Tratamento e distribuição de água e coleta de esgoto.
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Gás: Distribuição de gás natural encanado.
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(Às vezes) Telecomunicações: Embora muitas vezes classificadas separadamente, a infraestrutura básica de telecom também pode se enquadrar nesse perfil.
O modelo de negócio: previsibilidade regulada
Diferente de uma loja que precisa se reinventar a cada estação, as utilities operam em um modelo de negócio muito particular.
Elas geralmente funcionam sob concessões de longo prazo do governo. Uma empresa ganha o direito (e a obrigação) de fornecer eletricidade ou água para uma cidade ou estado por 20, 30 anos ou mais.
Isso significa duas coisas:
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Demanda Constante: As pessoas não deixam de usar energia em uma crise. Elas não cancelam a conta de água porque a economia vai mal. Isso torna a receita das utilities extremamente previsível.
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Regulação: Em troca desse monopólio natural (não faria sentido ter duas redes de esgoto concorrentes na mesma rua), essas empresas são altamente reguladas por agências governamentais (como a ANEEL ou a ANA, no Brasil). Essas agências definem as tarifas, as metas de qualidade e os planos de investimento.
As utilities são como o sistema nervoso da economia — sem elas, nada funciona. Elas são a infraestrutura básica que permite que todas as outras empresas, da padaria da esquina à gigante de tecnologia, operem.
Por que o mercado costuma subestimar as utilities
Se essas empresas são tão essenciais e previsíveis, por que não são as queridinhas da bolsa? A resposta está exatamente em suas maiores qualidades.
Crescimento modesto, porém constante
O mercado financeiro, especialmente no curto prazo, é movido por narrativas de crescimento explosivo. Uma empresa de tecnologia que promete multiplicar sua receita por dez chama muito mais atenção do que uma empresa de saneamento que projeta crescer 5% ao ano.
As utilities não dão “grandes saltos”. Seus lucros são previsíveis, mas raramente explosivos. Elas crescem de forma orgânica, investindo na manutenção e expansão da rede, e seus ganhos são limitados pela regulação e pelo crescimento vegetativo da população.
O foco em dividendos, não em valorização rápida
Investidores que buscam investir em utilities geralmente não estão atrás da “próxima grande tacada”. Eles estão buscando algo diferente: renda passiva.
Como seus lucros são estáveis e previsíveis, e elas não precisam reinvestir 100% do que ganham para crescer (como uma startup), as utilities são famosas por distribuir uma grande parte de seus lucros aos acionistas na forma de dividendos.
Para o especulador de curto prazo, isso é desinteressante. Para o investidor de longo prazo, que busca construir patrimônio e receber uma renda previsível, isso é exatamente o perfil ideal.
Como as utilities se comportam em diferentes cenários econômicos

A verdadeira força das ações de utilities aparece quando comparamos seu desempenho em diferentes fases da economia. Elas são o que chamamos de ações defensivas ou “anticíclicas”.
Isso significa que o desempenho delas tende a ser descorrelacionado (ou seja, não segue a mesma lógica) do ciclo econômico geral.
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Em crises e recessões: Quando a economia encolhe e o desemprego aumenta, as pessoas cortam gastos supérfluos (viagens, carros novos, restaurantes). No entanto, elas continuam pagando a conta de luz, água e gás. Por isso, as receitas das utilities sofrem muito menos.
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Em períodos de alta dos juros: Embora taxas de juros mais altas possam tornar a dívida dessas empresas (que investem pesado em infraestrutura) mais cara, seu modelo regulado muitas vezes permite o repasse desses custos para a tarifa, protegendo suas margens.
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Em expansões econômicas: Elas também crescem, acompanhando o aumento da atividade industrial e residencial, mas de forma mais controlada e estável.
Enquanto empresas de consumo e varejo sentem a oscilação da economia diretamente na veia, as utilities seguem operando com uma estabilidade impressionante.
O papel das utilities dentro da Bolsa de Valores
Na prática, as ações de utilities desempenham um papel crucial de equilíbrio em qualquer carteira de investimentos.
Elas são a “âncora” do portfólio. Investidores experientes as utilizam para reduzir o risco e a volatilidade geral da carteira.
Grandes gestoras, fundos de investimento e, principalmente, fundos de previdência (que precisam de segurança para garantir a aposentadoria de milhões de pessoas) mantêm posições relevantes em ações defensivas do setor elétrico ou de saneamento. Eles fazem isso não porque esperam que essas ações dobrem de preço em um ano, mas porque precisam da previsibilidade do fluxo de caixa e dos dividendos que elas oferecem.
Ter utilities na carteira é uma decisão estratégica para construir uma base sólida, permitindo que o investidor possa, então, tomar riscos mais calculados em outros setores.
Receita previsível: a maior força das utilities
Vimos que as ações de utilities são muitas vezes vistas como “chatas”. Agora, vamos entender por que essa característica é, na verdade, sua maior virtude.
A principal vantagem competitiva dessas empresas é algo que a maioria das companhias da bolsa sonha em ter: previsibilidade de receita.
Isso não acontece por acaso, mas sim pelo design do seu modelo de negócio:
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Contratos de Longo Prazo: Empresas de saneamento ou energia operam sob concessões que podem durar 20, 30 ou até 50 anos, garantindo seu direito de operação.
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Tarifas Reguladas: O preço que elas cobram (a tarifa de luz ou água) é definido por agências reguladoras e, crucialmente, é reajustado periodicamente (geralmente pela inflação mais outros fatores), protegendo a receita da desvalorização da moeda.
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Demanda Constante: O consumo de água, luz e gás não é opcional. É essencial.
Enquanto setores cíclicos (como varejo, construção civil ou turismo) sofrem altos e baixos drásticos com a economia, as utilities continuam faturando. Em uma crise, você pode adiar a troca do carro ou cancelar as férias, mas você não deixa de acender a luz, tomar banho ou usar a geladeira.
Fluxo de caixa estável e alta visibilidade de lucros

Essa receita previsível leva diretamente à segunda grande vantagem: um fluxo de caixa previsível.
“Fluxo de caixa” é simplesmente o dinheiro que entra e sai da empresa. Como as utilities têm uma demanda constante e custos relativamente estáveis (manutenção da rede, operação), elas conseguem projetar seus lucros com uma precisão impressionante.
Poucas empresas listadas na bolsa têm a capacidade de prever sua receita futura com tanta exatidão quanto as utilities.
Para o investidor, isso significa:
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Menos surpresas: Os resultados trimestrais raramente trazem choques negativos.
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Planejamento de investimentos: A empresa sabe quanto pode investir na expansão e manutenção da rede sem comprometer sua saúde financeira.
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Distribuição de lucro: Elas conseguem definir políticas claras de dividendos constantes, pois sabem exatamente quanto dinheiro deve sobrar.
A força dos setores essenciais da economia
As utilities operam em setores essenciais da economia. Eles são a infraestrutura básica sobre a qual todo o resto é construído.
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Energia Elétrica
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Saneamento Básico (Água e Esgoto)
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Gás Natural
Esses setores não “saem de moda”. Eles não serão substituídos por uma nova tecnologia disruptiva da noite para o dia (na verdade, novas tecnologias, como carros elétricos, aumentam a demanda por eletricidade).
A demanda por esses serviços cresce de forma lenta, mas constante, acompanhando o crescimento populacional, a urbanização e o desenvolvimento econômico do país. É um crescimento sem euforia, mas implacável.
Empresas reguladas: risco menor do que parece
Muitos investidores iniciantes veem a regulação governamental como um “problema” ou um risco. No caso das utilities, muitas vezes é o contrário: a regulação é uma garantia.
Funciona como um grande contrato:
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O Lado da Empresa: Ela se compromete a investir, manter a qualidade do serviço e operar de forma eficiente.
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O Lado do Governo (Regulador): Em troca, o governo garante o monopólio da empresa naquela região (concessão) e define regras claras para o reajuste das tarifas, garantindo que a empresa seja remunerada por seus investimentos e protegida da inflação.
Essa regulação, longe de ser um problema, cria um ambiente de negócios com regras claras e previsibilidade de longo prazo, reduzindo drasticamente o risco para o investidor.
Baixa volatilidade em momentos de crise
Chegamos a um dos pontos favoritos dos investidores de longo prazo: as utilities são ações anticíclicas.
Volatilidade é a medida de quanto o preço de uma ação sobe e desce. Ações muito voláteis são como uma lancha rápida em mar agitado. As utilities são como um grande navio transatlântico: lentas, firmes e muito mais seguras durante a tempestade.
Em momentos de pânico no mercado (crises políticas, recessões econômicas), é comum vermos investidores fazendo o movimento chamado flight to quality (fuga para a qualidade). Eles vendem suas ações mais arriscadas (tecnologia, varejo, aéreas) e compram ativos seguros.
As utilities são o principal destino desse dinheiro.
Exemplo: Enquanto ações de varejo podem despencar 20% ou 30% em uma crise severa, as ações de utilities muitas vezes caem muito menos (talvez 5%) ou, em alguns cenários, podem até subir, pois são vistas como um porto seguro.
Barreiras de entrada muito altas (quase impossíveis de competir)
Uma das maiores vantagens das utilities é o que Warren Buffett chama de “fosso” (em inglês, moat) — barreiras que protegem a empresa da concorrência. No caso das utilities, esse fosso é um verdadeiro oceano.
É impossível competir com elas por duas razões:
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Capital (Dinheiro): Ninguém monta uma nova empresa de energia elétrica do zero. A infraestrutura necessária (construir hidrelétricas, milhares de quilômetros de linhas de transmissão, postes, estações de tratamento de água) custa bilhões e leva décadas.
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Legal (Concessões): Mesmo que você tivesse o dinheiro, não poderia competir. O governo já deu a uma empresa a concessão exclusiva para operar naquela cidade ou estado.
Essa ausência de concorrência direta garante que as empresas estabelecidas mantenham suas margens de lucro protegidas no longo prazo.
Lucros constantes e independentes do humor do mercado

Somando tudo isso, entendemos que os lucros das utilities não dependem do “humor” do consumidor, de lançamentos de produtos ou de tendências sazonais.
Seus lucros vêm de contratos regulados e da demanda essencial por serviços básicos. A empresa de energia da sua cidade lucra independentemente de quem ganhou a eleição, de qual o próximo lançamento da moda ou se a bolsa está otimista ou pessimista.
Essa desconexão do “ruído” do dia a dia é o que permite ao investidor de longo prazo dormir tranquilamente.
Agora que entendemos por que as ações de utilities são tão estáveis, previsíveis e protegidas pela própria estrutura do setor (regulação e barreiras de entrada), podemos avançar para o resultado prático disso tudo no bolso do investidor.
Em seguida, vamos explorar o verdadeiro poder dos dividendos constantes e como esse fluxo de caixa previsível se transforma em retornos robustos no longo prazo, analisando como essas ações se comportam dentro de uma carteira de investimentos e por que elas são indispensáveis para quem busca construir patrimônio com segurança.
O poder dos dividendos previsíveis
Se as utilities têm receita estável e fluxo de caixa previsível, qual é a consequência direta disso para o investidor? A resposta está em uma palavra: dividendos.
Como essas empresas geram lucros consistentes e não precisam reinvestir 100% do que ganham para operar (diferente de uma startup de tecnologia), elas historicamente distribuem uma grande fatia desses lucros aos seus acionistas.
E o mais importante: elas fazem isso com uma frequência e previsibilidade impressionantes.
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Elas raramente reduzem ou cortam seus pagamentos de dividendos.
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Muitas têm um histórico de décadas de distribuição ininterrupta.
Para muitos investidores, especialmente os focados em renda passiva na Bolsa, as dividendos de utilities funcionam como uma “mensalidade” paga pela empresa, que pinga na conta da corretora com regularidade.
É essa confiabilidade que atrai investidores de perfil conservador, grandes fundos de previdência (que precisam pagar aposentadorias) e qualquer pessoa que busque um fluxo de renda estável do seu patrimônio.
Utility é sinônimo de geração de caixa consistente
A capacidade de pagar dividendos em qualquer cenário é o que separa as utilities de outros setores.
Pense nisso: mesmo em uma recessão severa, quando as pessoas param de comprar carros ou roupas, elas continuam usando energia elétrica, tomando banho e acendendo o fogão a gás.
Esse consumo essencial garante que o caixa continue entrando na companhia. Esse fluxo de caixa constante é a “gasolina” que permite à empresa pagar suas contas, fazer seus investimentos obrigatórios e, o mais importante, honrar o compromisso de dividendos com o acionista.
Enquanto outras empresas podem ter que cortar dividendos para sobreviver a uma crise, as utilities geralmente navegam por elas com muito mais tranquilidade.
Reinvestir dividendos: o verdadeiro segredo do retorno elevado
Aqui está o ponto onde muitos investidores iniciantes se confundem. Eles olham para uma ação de utility e pensam: “Mas ela só cresce 5% ao ano”. Eles esquecem da mágica dos juros compostos aplicada aos dividendos.
Quando você recebe um dividendo, você tem duas opções:
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Gastar o dinheiro (usar como renda).
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Reinvestir o dinheiro (comprar mais ações daquela mesma empresa).
Se você escolhe a opção 2 e repete esse processo ao longo de 5, 10 ou 20 anos, o efeito é explosivo.
Funciona assim:
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Ano 1: Você tem 100 ações que pagam dividendos.
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Reinvestimento: Você usa esses dividendos para comprar mais 5 ações.
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Ano 2: Você agora tem 105 ações pagando dividendos.
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Reinvestimento: Você usa esses dividendos (agora maiores) para comprar mais 5,2 ações.
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Ano 3: Você tem 110,2 ações…
No longo prazo, a “bola de neve” cresce exponencialmente. Quem reinveste dividendos de empresas sólidas transforma constância em multiplicação. É assim que um investimento “chato” e “lento” se transforma em um patrimônio gigantesco ao longo de uma vida.
Por que o retorno total das utilities surpreende no longo prazo

O mercado tende a focar apenas na valorização do preço da ação. Mas o investidor inteligente foca no Retorno Total (em inglês, Total Return).
Retorno Total = Valorização da Ação + Dividendos Recebidos
As ações defensivas como as utilities brilham nessa métrica. Elas podem não ter a maior valorização em um ano específico, mas entregam uma combinação poderosa:
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Valorização moderada e constante.
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Dividendos robustos e previsíveis.
Em janelas longas (10, 20, 30 anos), o retorno total das utilities frequentemente supera o de setores muito mais “sexy” e especulativos. Por quê? Porque elas evitam as grandes perdas. Enquanto a ação de tecnologia “da moda” pode subir 100% em um ano e cair 80% no seguinte, a utility segue firme, somando seu crescimento previsível no longo prazo.
Como as utilities se comportam em crises e expansões
A beleza das utilities está em seu comportamento “adulto” durante os diferentes ciclos econômicos:
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Em Crises (Recessões): Elas são ações defensivas. Quando o mercado entra em pânico e o índice geral cai 30%, as utilities podem cair apenas 10% (ou às vezes até se manterem estáveis), protegendo o capital do investidor. Elas caem menos e, muitas vezes, se recuperam mais rápido.
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Em Expansões (Crescimento): Elas não disparam como foguetes, mas crescem de forma estável, acompanhando a demanda crescente da indústria e dos novos domicílios.
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Em Juros Baixos: Elas se tornam extremamente atrativas. Se a renda fixa (Tesouro Direto, CDBs) paga pouco, o investidor migra em massa para as utilities buscando seus dividendos (que se tornam mais altos que os juros).
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Em Juros Altos: Esse pode ser um cenário mais desafiador (pois a renda fixa se torna um concorrente), mas suas receitas reguladas e muitas vezes corrigidas pela inflação ajudam a proteger suas margens.
Historicamente, utilities são favoritas de investidores de longo prazo
Não é à toa que as utilities formam a base de carteiras de grandes investidores institucionais.
Quem investe pesado em utilities?
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Fundos de Previdência: Precisam de previsibilidade absoluta para pagar aposentadorias por décadas.
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Fundos de Dividendos: Seu mandato é especificamente buscar empresas que pagam renda constante.
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Investidores de perfil conservador: Pessoas que valorizam a preservação do capital e não querem “aventuras” na bolsa.
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Aposentados: Muitos usam a renda passiva na Bolsa vinda das utilities para pagar suas contas mensais.
Esses players valorizam a estabilidade, a geração de caixa e a previsibilidade dos dividendos acima de qualquer promessa de crescimento explosivo.
Como as utilities entram na composição de uma carteira
Depois de tudo o que vimos, fica claro que as ações de utilities não servem para “dar uma tacada” ou dobrar seu patrimônio em seis meses. Elas servem para algo muito mais importante no longo prazo: construir a “base sólida” da sua carteira de investimentos.
Pense na sua carteira como um time de futebol:
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Você precisa de “atacantes” (ações de crescimento, tecnologia, varejo) para buscar grandes retornos, mas eles são voláteis e podem errar muito.
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E você precisa de “defensores” e um “goleiro” (ações de utilities).
As utilities são essa defesa sólida. Elas reduzem a volatilidade geral do seu portfólio e geram a renda passiva dos dividendos. Mesmo que você invista em ações de crescimento mais arriscadas, as utilities ajudam a segurar as quedas da carteira nos momentos de crise.
Quanto investir em utilities: depende do perfil

Não existe um número mágico, pois a alocação ideal depende dos seus objetivos, idade e tolerância ao risco. No entanto, podemos usar o perfil do investidor como um guia para uma estratégia de longo prazo.
É fundamental notar que esses percentuais são apenas exemplos educativos para ilustrar a lógica, e não uma recomendação de investimento.
Perfil Conservador
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Alocação Sugerida: Entre 30% e 50% da carteira de ações.
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Objetivo: O foco principal é a preservação de capital e a geração de renda passiva (dividendos). A estabilidade das utilities é exatamente o que esse perfil busca.
Perfil Moderado
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Alocação Sugerida: Entre 20% e 30% da carteira de ações.
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Objetivo: Busca um equilíbrio entre crescimento e segurança. As utilities servem como a “âncora” da carteira, permitindo que o investidor tome um pouco mais de risco nos 70% restantes.
Perfil Agressivo
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Alocação Sugerida: Entre 10% e 20% da carteira de ações.
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Objetivo: O foco é a máxima valorização. Mesmo assim, até o investidor agressivo se beneficia de uma base sólida. Esses 10% a 20% servem como “lastro” e fonte de caixa (via dividendos) para aproveitar oportunidades em outros setores.
Diversificação dentro das utilities (subcategorias)
Um erro comum ao investir em utilities é achar que “são todas iguais”. Isso não é verdade. O setor tem subcategorias com riscos e previsibilidade diferentes. Uma diversificação inteligente combina várias delas:
Transmissão de energia
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O que faz: Transporta energia em alta tensão (as grandes torres) das geradoras para as distribuidoras.
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Nível de Risco: O mais baixo de todos. São “relógios suíços”. A receita (RAP) é definida em contratos longuíssimos (30 anos), reajustados pela inflação, e não depende do volume de energia transmitida.
Saneamento (Água e Esgoto)
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O que faz: Captação, tratamento e distribuição de água; coleta e tratamento de esgoto.
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Nível de Risco: Muito baixo. A demanda é essencial e previsível, e os contratos de concessão são longos e regulados.
Geração de energia
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O que faz: Produz a energia (hidrelétricas, eólicas, solares, térmicas).
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Nível de Risco: Médio/Baixo. Depende de fatores climáticos (chuvas, ventos) e dos preços da energia no mercado. Ainda assim, costumam ter contratos de venda de longo prazo.
Distribuição de energia
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O que faz: É a “última milha”, quem leva a energia para dentro da sua casa (os postes na rua).
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Nível de Risco: Médio. É mais sensível à inadimplência dos consumidores e a “gatos” (perdas não técnicas), mas ainda é um serviço essencial e regulado.
Gás natural
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O que faz: Distribuição de gás encanado.
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Nível de Risco: Baixo. Demanda estável e essencial, com contratos de concessão regulados.
Combinar diferentes subcategorias (ex: ter Transmissão + Saneamento + Geração) reduz ainda mais o risco da sua carteira com utilities.
Riscos que o investidor precisa conhecer
Dito tudo isso, é crucial lembrar: utilities ainda são ações de renda variável, e não renda fixa. Elas possuem riscos que precisam ser monitorados:
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Risco Político e Regulatório: Este é o maior risco. Como dependem de concessões e tarifas definidas pelo governo, uma mudança drástica nas regras, uma intervenção populista ou a quebra de um contrato podem afetar os lucros.
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Risco de Juros Altos: Quando os juros básicos da economia (como a Selic) sobem muito, duas coisas acontecem: (1) a dívida das utilities (que é alta, pois investem muito em infraestrutura) fica mais cara; (2) a renda fixa se torna um concorrente mais atraente, “roubando” investidores das utilities.
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Risco Climático/Hidrológico: Específico para geradoras (hidrelétricas) e saneamento. Secas severas podem afetar os reservatórios e aumentar os custos de operação.
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Risco de Execução: São empresas de obras. Elas precisam investir bilhões para expandir e manter a rede. Atrasos ou custos acima do previsto em grandes projetos podem impactar os resultados.
Quando utilities brilham mais (cenários favoráveis)

As ações de utilities têm momentos em que sua performance se destaca ainda mais:
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Queda dos Juros: Quando a Selic cai, as utilities “voam”. Elas se tornam muito mais atraentes que a renda fixa, atraindo um fluxo enorme de investidores em busca de dividendos.
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Incerteza Econômica: Quando o mercado fica nervoso com crises, eleições ou recessões, os investidores fazem a “fuga para a qualidade” (flight to quality). Eles vendem ações arriscadas e correm para a segurança das utilities — e isso reforça ainda mais sua estabilidade.
Recapitulando por que utilities são tão poderosas
Chegamos ao final da nossa jornada pelo mundo, aparentemente “sem graça”, das ações de utilities. Ao longo, desconstruímos o mito de que essas empresas são investimentos “parados” ou “entediantes”.
Descobrimos que, por baixo dessa fachada de estabilidade, existe um modelo de negócios extremamente poderoso para o investidor de longo prazo.
Vamos recapitular:
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São Essenciais: Elas fornecem os serviços básicos (luz, água, gás) sem os quais a economia moderna não funciona.
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Receitas Previsíveis: Operam com contratos de concessão longos e tarifas reguladas, garantindo um fluxo de caixa que poucas empresas no mundo possuem.
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Lucros Estáveis: Como a demanda é constante (anticíclica), seus lucros não sofrem com os altos e baixos da economia da mesma forma que setores cíclicos.
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Dividendos Constantes: Sua previsibilidade de caixa se traduz em dividendos constantes e confiáveis, ideais para quem busca investimentos previsíveis e renda passiva.
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Menos Volatilidade: Elas funcionam como o “amortecedor” da carteira. Em momentos de crise, caem muito menos que o mercado, protegendo seu patrimônio.
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Retorno Total Consistente: A soma da valorização moderada com o reinvestimento dos dividendos robustos gera um retorno total que, em longas janelas, surpreende e supera muitos setores “da moda”.
As utilities formam a base sólida, a “fundação” sobre a qual uma carteira de investimentos vencedora é construída.
O erro comum: confundir previsibilidade com “falta de crescimento”
Agora podemos responder à pergunta inicial: por que investir em utilities se elas são tão subestimadas?
Muitos investidores, especialmente os iniciantes, evitam essas ações porque buscam emoção. Eles procuram:
❌ A próxima grande tacada, a ação que vai “explodir”.
❌ Histórias emocionantes de startups disruptivas.
❌ O crescimento rápido de empresas de tecnologia ou varejo.
Nessa busca, eles olham para as utilities e veem apenas uma linha de crescimento “lenta”. O que eles não percebem é que, na prática, essa “lentidão” é disciplina.
✔ Utilities entregam retorno constante, ano após ano.
✔ Elas protegem o investidor da volatilidade destrutiva.
✔ Elas recompensam a paciência com um fluxo constante de dividendos.
Enquanto outras ações correm, param e tropeçam a cada obstáculo da economia, as utilities caminham firmes — e, no longo prazo, muitas vezes chegam mais longe.
A força do longo prazo: disciplina vence emoção

Investir em utilities é, acima de tudo, uma filosofia de investimento. É trocar a adrenalina da especulação pela disciplina da acumulação.
Essas ações valorizam o que realmente constrói patrimônio ao longo de décadas:
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Consistência nos resultados.
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Previsibilidade dos lucros.
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O poder mágico do reinvestimento de dividendos.
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Uma visão de 10, 20 ou 30 anos, não de 10 dias.
O mercado financeiro é um teste constante de paciência. As utilities são o veículo perfeito para o investidor que entende que a estabilidade no longo prazo vence a euforia do curto prazo.
Como utilities ajudam o investidor a dormir tranquilo
Além do retorno financeiro, há um benefício psicológico imensurável em ter uma carteira com utilities. Elas reduzem a ansiedade.
Saber que parte do seu patrimônio está alocada em empresas que lucram mesmo nas piores crises, que continuarão pagando seus dividendos e que não vão cair 50% em um dia de pânico, traz paz de espírito.
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Elas diminuem a volatilidade geral da sua carteira.
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Elas oferecem uma renda recorrente que não depende do seu trabalho.
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Elas protegem seu portfólio contra os “cisnes negros” e crises inesperadas.
Uma carteira com utilities tende a ser mais estável — e estabilidade é um dos pilares da independência financeira.
Utilities são subestimadas, mas fundamentais
No curto prazo, as ações de utilities podem parecer “paradas”. Elas raramente serão a notícia principal do jornal de economia.
Mas no longo prazo, elas se revelam máquinas silenciosas de geração de caixa, estabilidade e retorno previsível. Elas não brilham como as estrelas da moda que capturam a atenção de todos — elas são o que sustenta o céu inteiro.
Investir bem não é sobre adivinhar o próximo hype ou acertar a próxima grande virada do mercado. É sobre construir um patrimônio sólido, previsível e resistente ao tempo.
E poucas classes de ativos fazem isso tão bem quanto as boas e velhas — e poderosas — utilities.





